2005/12/05

 
Medo na escola
investigação Dados sobre comportamento dos estudantes portugueses são escassos Estudo da Universidade do Minho aponta os insultos como a principal agressão aos alunos 
BRUNO CASTANHEIRA


Fernando Basto

OGoverno britânico decidiu, na última semana, criar uma lei que permite multar os pais dos alunos com comportamentos indisciplinares. A mesma preocupação estende-se a outros países europeus, como a Espanha, onde um inquérito revelou que 24% dos jovens questionados sobre a indisciplina na escola são vítimas de maldades diversas por parte dos colegas durante todo o ano escolar e têm medo de ir para a escola. Em Portugal, apenas se conhecem números referentes a actos violentos. Contudo, especialistas em educação afirmam que a intimidação (um fenómeno conhecido pela designação inglesa de "bullying") continua esquecida entre nós e é de longe muito mais preocupante e séria do que os fenómenos de indisciplina ou violência escolar.

Na base da decisão do governo britânico está a necessidade de conter a indisciplina na escola, considerada responsável pelo aumento do insucesso escolar. Ao mesmo tempo que tenta sensibilizar os encarregados de educação para a necessidade de colaborarem com a escola, o Executivo de Blair dá mais autoridade aos professores, permitindo-lhes, inclusive, que usem da força para submeter os alunos à disciplina.

Também em Inglaterra, os directores de uma escola de ensino básico decidiram instalar câmaras de vídeo nas salas de aula. As imagens servirão para, mais tarde, mostrar aos alunos e pais os comportamentos indevidos que afectam o rendimento escolar. Em Portugal, os dados quer referentes à intimidação sobre alunos quer sobre o impacto no insucesso são muito escassos. Acresce a isso a escassa margem de manobra dos professores para lidar com o problema. Um dos pedagogos contactados pelo JN salientou a falta da abordagem do tema na formação inicial de professores, o que deixa os jovens estagiários desprotegidos em relação à forma como devem lidar com a indisciplina na sala.

Por seu turno, um estudo elaborado por uma investigadora da Universidade do Minho - dos poucos efectuados no país - dá conta da incidência elevada de casos de intimidação nas escolas e das formas variadas como ela é concretizada (ver gráfico).

Já em Espanha, onde o debate tem sido intenso, um inquérito feito pelo Instituto de Inovação Educativa apurou que os comportamentos intimidatórios (abuso de poder entre os jovens) na escola perturbam 24% dos inquiridos. Entre os actos mais frequentes estão chamar nomes (14,16%), rir-se do colega quando se engana (8,86%), ignorar os colegas (8,54%) e insultar (8,07%). Mais grave ainda é saber que este tipo de comportamentos perdura, na maior parte dos casos (24%), durante todo o ano escolar.

Para o pedagogo Alexandre Ventura, o fenómeno "é um icebergue do qual nem a ponta se conhece" e com consequências "muitíssimo mais graves do que a indisciplina ou a violência escolar".

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