2006/02/26

 

A frieza dos alunos desarma professores

Escolas: Fenómeno de "bullying" deve ser combatido pela comunidade
Casos extremos não são elevados, mas precisam da ajuda de instituições

"A sua frieza desarma-me!" A confissão da presidente do conselho executivo de uma escola com 1100 alunos soou quando o colóquio "Violência escolar - que futuro?" prestes a terminar e corresponde a uma daquelas "tiradas" que mostram como são curtos os debates.

Conta-se o contexto em breves penadas a escalada de violência escolar é tal que a dirigente se sente cada vez mais impotente. "Sabemos onde estão os focos, quem são os alunos, o que fazem", contou a responsável, falando no colóquio que ontem decorreu em Santo Tirso.

E narrou histórias de violência e de extorsão, de alunos chamados ao seu gabinete. "Fico escandalizada com a frieza com que descrevem o que fazem. A sua frieza desarma-me! Assumem tudo o que fazem, acham normal, não mostram nenhum arrependimento. A lei diz que a minha acção disciplinar se limita a aplicar-lhes cinco dias de suspensão vão cinco dias para fora da escola, para fazer a vontade aos meus colegas; e eles fazem coisas deste tipo lá fora. A escola não consegue fazer nada!" Razão para dramatizar?

"O que aponta é uma excepção", tranquilizou-a Beatriz Pereira, investigadora do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho. Dos problemas de violência escolar, só uma parte não se consegue resolver dentro de portas, assevera. Essa necessita de instituições externas. Por exemplo, o médico de família, o encaminhamento para um pedopsiquiatra. Problema como é que uma família desestruturada, na qual o pai - o modelo... - está frequentemente preso, consegue levar um adolescente ao médico? Também há a Segurança Social. Mas nem sempre responde, anota.

Atenção aos sinais

O que fazer contra o fenómeno de bullying escolar - a agressão frequente de uns alunos sobre outros, exigência de dinheiro aos mais novos e mais fracos, ameaças, insulto, humilhações, exclusão sistemática das brincadeiras? Os pais, esclarece, devem estar atentos a sinais como nervosismo, tristeza, insónias, recusa em ir à escola e passar a interpretá-los mais como sinais de alerta de que algo se passa do que "manhas" para evitar a escola. Se as crianças se queixam (e só metade o faz), os pais devem levar a sério a denúncia. Os professores devem estar mais atentos ao que ocorre com os seus alunos - mesmo no recreio - e passar a admitir que as suas escolas não são os paraísos que imaginam. Uma prova enquanto os alunos de escolas de Braga, Guimarães e Lisboa inquiridos numa das suas investigações apontaram a existência de bullying sob várias formas, todos os professores negaram existência de tal fenómeno...

O problema não se resumirá ao recinto da escola, avisou, pois deixará sequelas nas vítimas e animará os agressores. Não estranharemos que mais tarde continuem a obter pela violência o que desejam. Que estratégias seguir?, perguntavam então pais e professores. Enquanto a vereadora da educação, Ana Maria Ferreira, e o comandante da Polícia Municipal, Eduardo Ribeiro, vincavam o papel dos poderes locais nas medidas de segurança externa, Beatriz Pereira sublinhava como pode a escola melhorar a sua resposta. Formar professores e funcionários, sim; mas também melhorar e diversificar os espaços, criar espaços e tempos de desporto informal, desporto escolar, ludotecas, clubes de informática, de fotografia, de línguas, etc. E até "equipamentos móveis" - cordas, bolas, arcos, raquetas, coisas baratas com que os alunos podem divertir-se e baixar a agressividade, explicou.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?